Cores e escombros: a nova identidade visual da Faísca
por Matheus Ferreira
Sobre a identidade visual criada por ele em parceria com Bruno Rios, sua dupla na Prumo
Para o Faísca Festival de Publicações Experimentais, nos planejamos em torno do conceito trazido pela organização do evento, o de um mundo que já se foi, onde estamos concebendo coisas novas com os escombros do que restou. Nos debruçamos, então, sobre a ideia de lugar pós-apocalíptico, no qual os fragmentos da devastação seriam uma origem.
Inevitavelmente, pensamos em identidades de filmes, discos e livros futuristas, nessas invenções dissidentes que servem como soluções, ainda que precárias, para os momentos em que uma versão mais adequada não existe no horizonte, nas velhas e boas (e extremamente brasileiras) gambiarras.
Surgiu também, por meio da proposta que nos foi apresentada, uma alusão a esse design superlativo das identidades visuais de festas de música eletrônica contemporâneas, bastante carregado e “trevoso”.
Com toda essa bagagem, começamos nossas pesquisas e, a partir de um dado momento, nos surgiu a demanda de inserir imagens, corpos, texturas que fizessem alusão à materialidade de uma publicação, ao próprio livro, à revista, ao papel dobrado, a essa coisa que surgiu ainda no império romano e que revolucionou, de maneira irreversível, a circulação de informação no planeta – e consequentemente o mundo em si.
Fizemos in-fólios de tudo quanto é jeito, buscando esse gesto fundador da publicação como conhecemos, com o intuito de resgatar o começo pra falar sobre um fim, pensando em um ciclo de busca do primeiro gesto pra reconstruir.
De maneira quase impensada, chegamos ao “livro ilegível” de Bruno Munari, composto só por páginas sem texto, de diferentes cores e formatos, que vem como uma proposta de liberdade para inventar como ler. Fizemos essa publicação-experimento e a fotografamos sob várias perspectivas. Começamos a produção com essas imagens e, de repente, a questão de falar de fim do mundo começou a virar uma conversa sobre um caos que, ao mesmo tempo que é um monte de escombros, abrange ali todos os ingredientes para que qualquer coisa possa ser construída.
Diante desse pensamento, surgiu a ideia de algo por nascer, de células, ovos e gestações. Digitalizamos diversas texturas e imagens provenientes de um livro de 1966 publicado pela Reader’s Digest no Brasil, intitulado “Maravilhas e mistérios do mundo animal”, resultado que começou a dividir espaço com as imagens da publicação-experimento, como se tudo isso falasse do que está por nascer.
Partimos das tintas que o estúdio de impressão faísca lab tem disponíveis, pensando também que o caos e o fim do mundo certamente são bem mais coloridos do que se imagina, nem que seja na urgência de quem os vivencia. Ao mesmo tempo, de alguma forma, as cores planas remetem à infância, de cores primárias, e outros elementos que carregam em si essa ideia de início, de construção. Usamos referências dos códigos de tintas do stencil.wiki, mesmo sabendo que, impressas, haveria variações, que também são bem-vindas. Assim, criamos cartazes como pontos de partida.
Assista ao vídeo de lançamento da identidade visual aqui.
*Os comentários são moderados pela equipe da Faísca
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