Fauna e Flora
Fauna e Flora é uma publicação inédita do Faísca Lab em parceria com o artista visual e quadrinista Fabio Zimbres. Realizada em preto e azul médio, a obra foi produzida no ateliê de impressão da Faísca ao longo de duas semanas. Este foi o primeiro trabalho em que todas as etapas de replicação e acabamento foram feitas inteiramente no espaço. São 130 exemplares no total.
Abaixo apresentamos os processos de produção.
Texto por Jão
Passo 1: Recebimento dos arquivos de impressão
No caso de Fauna e Flora, o autor já nos enviou as lâminas A3 prontas para a reprodução, ou seja, com a imposição de páginas já preparada. Cada arquivo, em .TIF, possuía a frente e verso da folha, assim como os textos, cada um separado em camadas com as especificações de quais cores deveriam ser utilizadas na impressão. Marcas de corte e de registro não faziam parte e optamos por não incluí-las, deixando o processo mais livre para o caso de erros.
Passo 2: Impressão
As folhas internas do livro, antes de serem dobradas para formar pequenos livretos, foram pensadas para constituir cartazes com as dimensões de 20cm X 29cm, mas, por conta da Risograph MZ790 do Faísca Lab ter a possibilidade de replicar as páginas no formato A3, cada lâmina deveria ser cortada ao meio para formar duas folhas A4. Por isso, nas imagens é possível observar que, ao longo da impressão, elas estão juntas. Esse foi um jeito de economizar másteres, tinta e, também, trabalho.
Os papéis escolhidos para o livro foram o pólen bold 90g para as páginas internas e o Colorplus Aruba 180g para a capa.
Iniciamos os procedimentos a partir dos cartazes. Ou seja, usando o tambor de azul médio. Toda essa etapa foi realizada antes de seguirmos para os versos, em preto para os desenhos e azul médio para os textos.
Passo 3: Corte e dobra
Após imprimir todas as lâminas em frente e verso, iniciamos os cortes e dobras das páginas, para formar pequenos cadernos no formato de 10cm X 14cm. A proposta do livro foi de reunir as folhas soltas, sem uma ordem pré-definida de leitura.
Usamos uma guilhotina simples de mesa para realizar os cortes, tanto para dividir as folhas A3 em duas A4, como para refilar os livretos.
Já as capas deveriam ser dobradas inteiras, formando uma jaqueta que embala os cadernos, ao mesmo tempo em que proporcionou a inclusão de um pôster A3 no verso. Assim como as outras lâminas, ela foi feita em preto de um lado e azul médio atrás.
Para a parte das dobras, como ainda não temos uma espátula de vinco em nosso ateliê, usamos uma outra ferramenta que estava à disposição: uma faca de corte de tecidos, o cabo dela, de plástico, funcionou para conseguirmos realizar essa parte sem sujar as folhas com marcas de dedos.
Passo 4: Cinta
Ao finalizarmos as dobras, refiles e separarmos os cadernos dentro de cada embalagem, faltava algo para fixar as obras dentro da capa, afinal, a proposta era que as folhas ficassem soltas ali. Portanto, nossa ideia foi fazer uma cinta.
O primeiro pensamento foi de imprimir somente uma parte das imagens frontais em um papel mais grosso, tipo 180g, mas o duplicador MZ790 teve um problema nas borrachas de separação de folhas e não estava conseguindo puxar lâminas mais densas para dentro da máquina. Com isso tivemos que improvisar: como ainda tínhamos alguns papéis offset 120g, optamos por rodar nele, fazendo uma camada de rosa fluorescente por baixo.
O bloco chapado trouxe uma nova experiência sensorial para a obra: com a grande quantidade de tinta, basta apenas passar as mãos na cinta para sujar os dedos. Acreditamos que encaixou na proposta do Fabio Zimbres, pois todo o livro já é composto por diversas manchas. Também gostamos da ideia desse trabalho, feito durante a pandemia de Covid-19, que nos deixou mais distantes e, muitas vezes, focados em encontros virtuais, apresentar mais camadas de materialidade para além do próprio livro em si.
Resultado
Quem assistiu a entrevista que fizemos com o Fabio Zimbres para a programação da Experiência Virtual do festival deve ter percebido sua vontade de construir publicações que, de certa forma, representam seus cadernos de desenho. Assim, Fauna e Flora é um livro que possui uma estrutura semelhante.
Apesar de, no início, acreditarmos que seria um trabalho mais simples, já que não envolvia tantas passagens das folhas pela máquina para usar mais cores, o processo levou muito mais tempo do que imaginávamos. Também foi muito enriquecedor o aprendizado que ele nos trouxe, tanto para lidar com improvisos quanto para refletirmos sobre os tipos de obras que gostaríamos de lançar e produzir para o Faísca Lab. Além disso, a realização desse livro nos envolveu muito mais em todas as etapas, com diversas decisões sendo tomadas por nós para chegarmos ao resultado final.
Esperamos que gostem desse trabalho.
Fabio Zimbres é uma das principais referências do mundo na autopublicação. É desenhista, quadrinista, ilustrador, designer e editor. Tem trabalhos no Brasil e no exterior, como as revistas Animal, Chiclete com Banana, Dundum, Lápiz Japonés, Strapazin, Lapin e Pé de Cabra. É autor dos livros Vida Boa, Feliz e Música para Antropomorfos (com a banda Mechanics). O Apocalipse segundo dr. Zeug, história publicada em 1997, saiu na revista Now#2 pela Fantagraphics e foi reeditada pelo No_LIBROS em chinês no ano passado, chegando ao Brasil em 2020 por parceria com a Risotrip, em edição chinês-português.