O que é Risografia?
Os duplicadores e a risoarte
Desenvolvido como evolução dos mimeógrafos, o duplicador Risograph deu origem ao termo risografia. Esta é uma tecnologia japonesa, cada vez mais usada por artistas, designers e editores pelo mundo para materializar seus trabalhos criativos. Características marcantes dos resultados impressos são as cores próprias e vibrantes, além das texturas obtidas a partir de tinta oleosa absorvida pelo papel, que conferem aos trabalhos artísticos uma aparência artesanal, composta por manchas, nuances, camadas de cores e mesmo os deslocamentos gerados por sobreposições.
A autonomia para a produção de publicações e as possibilidades de experimentação são os principais atrativos da risografia.
A linha de duplicadores digitais Risograph foi lançada no Japão nos anos 1980 pela Riso Kagaku Corporation e pensada como uma alternativa para impressão em alta velocidade, de média e larga escalas. O público-alvo eram empresas, escritórios, outras instituições privadas ou escolas. Esses equipamentos, alguns anos depois de sua criação, foram então descobertos por artistas independentes como uma maneira de lançar seus próprios trabalhos. O duplicador permitiu que os próprios criadores das obras pudessem reproduzi-las com maior facilidade, substituindo processos manuais, e que pudessem desenvolver suas habilidades a partir do uso da máquina para, inclusive, modificar sua função original.
O pioneiro no uso da risografia para fins criativos é o grupo neerlandês Knust, convidado desta edição da Faísca. O coletivo adquiriu seu primeiro duplicador digital, da marca Ricoh, em 1992 e, desde então, aprimora seus conhecimentos, dominando a técnica. Com isso, faz com que toda a produção em risografia evolua.
No final dos anos 2000, vários estúdios e publicadores especializados na impressão em Risograph foram inaugurados pelo mundo, fenômeno criativo que cresceu especialmente na última década. Muitos destes espaços são geridos por artistas ou designers que exploram a experimentação e a inovação, a partir do estudo, da apropriação e das modificações implementadas por eles para a impressão faça-você-mesmo com a Riso.
Página do Ko Zine “Fúria”, de Bruno Rios e Matheus Ferreira (Prumo), impresso e publicado pelo Knust
Cores e tintas
Como essas máquinas foram projetadas para impressão monocromática, o registro de cada cor é trabalhado separadamente, o que significa que o papel precisa de uma nova passagem pelo duplicador para cada camada de cor desejada. Existem também duplicadores Riso bicolores (permitindo que o papel saia com duas cores registradas em única passagem). As sobreposições podem gerar novas cores, assim como desalinhamentos provenientes dos reposicionamentos do papel, denominados “erros de registro”. Estes desencontros, muitas vezes, são aproveitados como parte do processo de experimentação gráfica, assim como as manchas geradas pela densidade de tinta, que não seca completamente: cada ‘cópia’ acaba sendo diferente da seguinte.
As tintas Riso, feitas com base em óleo de soja ou farelo de arroz, não são tóxicas, e os duplicadores produzem baixa quantidade de resíduos, além de consumirem pouca energia em comparação a outros métodos, o que torna o processo ecologicamente sustentável. A Riso funciona com base na impressão por estêncil – em inglês, stencil printing –, um processo permeográfico, já que, para chegar ao papel, a tinta atravessa a área perfurada de um máster ou estêncil (folha usada como molde para criar cópias).
Fotos do livro “Magical Octopus” (Jan van Eyck Academie & vários autores, 2020).
Risoarte no Brasil
Alguns estúdios especializados na impressão em Riso, com foco nas áreas das artes gráficas e do design, estão situados em diferentes regiões do país. Veja, abaixo, nosso guia de espaços para rodar novos trabalhos:
Belo Horizonte/MG
Entrecampo
@entrecampo
Assista à entrevista com Ricardo Portilho, um dos sócios do estúdio, aquifaísca lab
@faisca.lab
Assista ao tutorial do programa Laboratório de Zines aquiSão Paulo/SP
RISOTROPICAL
@risotropical
Assista à entrevista de Renan Costa Lima, diretor do estúdio, aquiVolúsia Press
@volusiapress_risografia
Assista ao debate Risoarte no Brasil: camadas, deslocamentos e registros da produção criativa, com a participação de Rogério Borovik, diretor do estúdio, aquiRio de Janeiro/RJ
Risotrip Print Shop Co.
@risotrip
Assista à palestra Risografia: (quase) tudo o que você precisa saber, realizada por Daniel Bicho e Igor Arume, sócios do estúdio, aquiCuritiba/PR
Selva Press
@selva.press
Assista à entrevista com Estelle Flores, coordenadora do estúdio, aquiSalvador/BA
a margem ; press / Riso Ativa
@amargempress @riso_ativa
Assista à entrevista com léo, um dos integrantes do estúdio, aquiFortaleza/CE
Litoral Press / RisoTropical.For
@litoral.press
Assista à entrevista com Rodrigo CostaLima, sócio do estúdio, aqui
O espaço de impressão da Faísca
Microeditora, ateliê de risografia e espaço cultural em Belo Horizonte, o faísca lab publica zines, livros de artista e outros impressos. Foi idealizado como selo de publicações e outras experimentações gráficas em 2020, na programação da Faísca Festival, iniciativa criada e coordenada pelos diretores do ateliê, a gestora cultural Helen Murta e o artista gráfico Jão. Em 2023, abriu suas portas para o público como espaço para eventos, residências artísticas e outros encontros, no bairro Cidade Nova, na capital mineira.
O estúdio possui dois duplicadores digitais Riso em funcionamento, um MZ790 e um RZ990, com seis tambores de cor: amarelo, azul médio, preto, rosa fluorescente, verde e vermelho brilhante; além de equipamentos voltados para a finalização e o acabamento de publicações.
O catálogo inclui títulos como Fauna & Flora, livro de artista de Fabio Zimbres, DEXAMETAZONA 01, revista de ensaios gráficos de Jão e a coleção Laboratório de Publicações Experimentais, com trabalhos de Bruno Rios e Matheus Ferreira (Prumo), Circe Clingert e Thyana Hacla (Phonte88), Preto Matheus (SQN Biblioteca) e da artista visual Luiza Palhares. O faísca lab também promove programas criativos como o Laboratório de Zines.
Programação de vídeos sobre risografia: Estúdio Faísca
Um canal de YouTube que tem como centro livros de artista, zines e outras obras do cenário da arte impressa: criado em 2020, o perfil Faísca Festival reúne tutoriais, palestras, entrevistas, videozines, oficinas, debates e outras apresentações. Para além da risografia, foco da primeira temporada da plataforma, o objetivo do ciclo 2023 é contemplar as publicações experimentais em seus mais variados aspectos, como técnicas de impressão, propostas, conteúdos e formatos.